terça-feira, 26 de janeiro de 2010

O CRENTE E A POLÍTICA (PARTE III)

O CRENTE E A POLÍTICA

O caso de Daniel, Sedraque, Mesaque e abede-Nego

Muitos crentes citam a história de Daniel para justificar suas candidaturas à política. Vejamos a seguir a interpretação correta sobre a vida de Daniel.
O rei Nabucodonosor compreendeu a importância do seu sonho e decidiu submeter a um teste os “sábios” da Babilônia. O rei mandou chamar os magos, os astrólogos, os encantadores e os caldeus para que eles lhe fizessem saber o sonho e a sua interpretação. Se não conseguissem decifrar o sonho, seriam mortos; porém, se os “sábios de Babilônia declarassem o sonho e a sua interpretação, receberiam de Nabucodonosor presentes, e dádivas, e grande honra “Se me não fizerdes saber o sonho e a sua interpretação, sereis despedaçados, e as vossas casas serão feitas um monturo; se vós me declarardes o sonho e a sua interpretação, recebereis de mim presentes, e dádivas, e grande honra” (Dn 2:5-6). Os “sábios” de Babilônia não conseguiram declarar o sonho do rei nem a sua interpretação. Nabucodonosor, enfurecido, decretou a matança de todos os “sábios” de Babilônia. O decreto de matança incluía também Daniel. Mas Daniel estava muito mais preocupado com a vida dos “sábios” de Babilônia do que com sua própria vida, pois Daniel conhecia a Deus, seu coração estava no Reino de Deus e os “sábios” de Babilônia estavam perdidos, pois o que eles praticavam era abominável aos olhos de Deus.
Daniel, decididamente, foi ter com o rei Nabucodonosor, e pediu tempo para interpretar o sonho; tempo para orar e para receber o auxílio do Deus Todo-Poderoso. Daniel faz saber o caso a Hananias, Misael e Azarias. Os quatros servos de Deus buscam o Senhor em oração intensa e Deus revela o sonho a Daniel, bem como a sua interpretação. O propósito de Daniel buscar ao Senhor para receber a revelação do sonho de Nabucodonosor foi para salvaguardar as vidas dos “sábios” de Babilônia, pois todos iam ser mortos por não darem resposta ao rei. Observe que Daniel não reivindicou nenhum mérito pessoal por revelar ao rei o sonho e sua interpretação. Daniel não tinha o desejo de governar, não tinha objetivo político, o seu coração estava no Reino de Deus. Daniel nunca almejou cargo político, isso se comprova em Daniel 5: 16-17: “eu, porém, tenho ouvido dizer de ti que podes dar interpretação e resolver dúvidas, agora, se puderes ler este escrito, e fazer-me saber a sua interpretação, serás vestido de púrpura, terás cadeia de ouro ao pescoço e no reino serás o terceiro governante; então respondeu Daniel e disse na presença do rei: AS TUAS DÁDIVAS FIQUEM CONTIGO, E DÁ OS TEUS PRÉMIOS A OUTRO; CONTUDO LEREI AO REI O ESCRITO, E FAR-LHE-EI SABER A INTERPRETAÇÃO”. Note que quando Daniel se propôs a ler o escrito na parede do palácio do rei Belsazar, filho de Nabucodonosor, não fez com a intenção de obter poder político. Vê-se claramente que Daniel rejeitou o cargo que o rei lhe ofereceu.
O crente candidato à política faz cartazes, picha paredes, trabalha e trabalha e trabalha para ser eleito. Isso mostra o desejo de governar no mundo da política. Bem diferente de Daniel. Portanto, aquele que almeja participação nos governos humanos mostra o quanto está distante do santo Daniel. Se alguém deseja ser político, isso não é manifestação de Deus e sim do coração da própria pessoa.
Daniel depois de interpretar o sonho de Nabucodonosor, foi colocado para ser governador de toda a província de Babilônia “então o rei engrandeceu a Daniel, e lhe deu muitas e grandes dádivas, e o pôs por governador de toda a província de Babilônia, como também o fez chefe dos governadores sobre todos os sábios de Babilônia” (Dn 2:48). Observe que Daniel foi colocado involuntariamente no cargo de governador. Deus tinha um propósito específico quando permitiu Daniel ser governador.
O povo de Israel que estava no cativeiro babilônico corria o risco de se misturar com os babilônios e perder sua identidade de povo de Deus. Os israelitas podiam adquirir os modos de vida dos babilônios. Então, Deus usa Daniel com autoridade de governador sobre o povo de Israel a fim de conservar os costumes e as tradições do povo de Deus. Agora, por que Daniel tinha que ter a autoridade de governador? O povo de Deus na época, como também as demais nações, só reconhecia autoridade política. Israel era, na época, uma nação politicamente organizada. Essa era uma posição desviada, pois não era a vontade de Deus. Mesmo assim, Deus permitiu que o povo de Israel tivesse governantes humanos e Ele mesmo constituiu alguns, embora esse fosse o desejo do coração desviado do povo. O povo não ouviria Daniel se ele não tivesse autoridade política. Como Israel era uma nação politicamente organizada o povo só reconhecia autoridade política e não reconhecia mais a autoridade divina. Tanto isso é verdade que as palavras dos profetas muitas vezes foram rejeitadas pelo povo, porque eram contrárias às autoridades políticas do povo. Portanto, no caso de Daniel, Deus tinha um propósito bem definido: usá-lo como líder político com autoridade de governador para guardar o povo de Israel da contaminação babilônica.
Alguns em defesa do engajamento político do crente dizem: “Sedraque, Mesaque e Abede-Nego, eram governantes políticos, por que não podemos ser?” Para refutarmos esse argumento basta lermos Daniel 3:12 “Há uns homens judeus, que tu constituíste sobre os negócios da província de Babilônia: Sedraque, Mesaque e Abede-Nego”. Note que Sedraque, Mesaque e Abede-Nego eram fiscais, ou seja, eles cuidavam das negociações comerciais da província de Babilônia, eram responsáveis pelas transações comerciais da Província. Eles eram empregados do rei, e não autoridade política. Eles foram tratados pelo rei Nabucodonosor, como súditos e não como quem tem autoridade política (Dn 3: 13- 21).
Finalmente, usar a história de Daniel, Sedraque, Mesaque e Abede-Nego para justificar o envolvimento do crente na política é ter uma visão tupiniquim dos planos de Deus. Vale salientar que Daniel passou incólume por vários governos, por fidelidade a Deus, e não por fidelidade partidária aos reis. Daniel enfrentou muitas perseguições e, já velho, foi lançado na cova dos leões por fidelidade a Deus, nunca por perseguição política. Não podemos esquecer que a função primária da igreja é proclamar o Santo Evangelho e chamar os homens ao arrependimento. Sua função nunca foi e nunca será o engajamento na política.
Ir. Marcos Pinheiro

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