CARTA
ABERTA AO PASTOR GEREMIAS DO COUTO
Pastor Geremias do couto, meus pêsames!
Meus pêsames porque o negrume cobriu sua mente levando a
perda de visão do pastoreio ao anunciar a sua pré-candidatura a deputado
Federal.
Primeiramente quero
dizer-lhe que a igreja nunca precisou e nunca vai precisar de representantes no
Congresso Nacional para realizar sua função. Se o senhor não sabe, os períodos
em que mais a igreja cresceu tanto em quantidade como em qualidade foram
aqueles em que ela não tinha qualquer representante político. Durante o início
da igreja cristã, os crentes foram perseguidos ferozmente pelo império romano.
Muitos foram torturados, outros mortos. As leis existentes não eram propícias à
liberdade religiosa e mesmo assim a igreja cresceu espiritualmente. Durante
muitos anos, no Brasil, a igreja evangélica não tinha representantes políticos
e crescemos, em qualidade, mesmo assim. A igreja nunca deixou de existir tendo
liberdade ou não, e sempre vai existir, porque Deus é soberano, é o dono da
obra e Sua obra vai avançar tendo liberdade ou não de pregar o Evangelho. Se
você pensa que precisamos de representantes no Congresso Nacional você está
admitindo que não tem fé suficiente para crer na administração do Deus
invisível, o grande Eu Sou.
Talvez você pense que a
igreja precisa de representantes evangélicos no poder para melhorar a condição
do país. Esse é um engano crasso. Querer atribuir a função da igreja a um
parlamentar crente é desconhecer a missão da igreja de Cristo. A igreja tem de
influenciar o Brasil e o mundo, e isto não se fará através de leis, mas através
da genuína pregação do Evangelho. Querer fazer leis com princípios cristãos
objetivando melhorar a condição moral e ética do país é reconhecer a ineficácia
da igreja e banalizar o poder do Evangelho. Em Atos 17:6, lemos que a igreja
primitiva transformou o mundo não pelo engajamento político, mas pregando
Cristo crucificado e ressuscitado. Um homem temente a Deus não rouba, não
mente, não mata, não adultera, não recebe propinas, ama ao próximo, é íntegro
em suas relações comerciais, paga devidamente seus impostos, é submisso às
autoridades constituídas. Isso somente é possível através de um encontro
genuíno com Deus. A função de transformar homens ímpios e perdidos em homens
tementes a Deus não é de parlamentar ou governante algum, mas sim da igreja.
Não precisamos de um vereador evangélico para pregar o Evangelho, nem de um
deputado, nem de um senador. Estado é Estado, igreja é igreja. O problema do
mundo não é político, é pecado. Não será um político que trará a
bem-aventurança, mas o colocar-se sob o controle de Cristo. A Bíblia diz: “Feliz
a nação cujo Deus é o Senhor” e não diz “Feliz a nação cujo governante é
crente”.
Talvez você pense que a
história de José do Egito lhe dá apoio para a participação dos reinos políticos
deste mundo. Porém, leia com atenção Gênesis 41: 40-41 e você vai observar que
José não se ofereceu para governar. José não disse a Faraó que estaria à
disposição para administrar o Egito. Ele não se lançou candidato. Por ter José
interpretado o sonho de Faraó, este o colocou na posição de governante. José
foi colocado involuntariamente na posição governamental porque Faraó viu nele
um homem que tinha o Espírito de Deus (Gn 41:38). Devo lhe salientar, pastor
Geremias, que a palavra “governador” em Gênesis 42:6 não tem o sentido
político. Na verdade, José não era um governador político do Egito, mas um
gestor do trigo, um administrador da fazenda do Egito: “Fê-lo senhor da sua
casa, e governador (gestor, administrador) de toda a sua fazenda”. Nos
versículos 48, 49 e 56 do capítulo 41 de Gênesis, vemos José gerenciando o
cereal de todo o Egito. O governador político do Egito sempre foi Faraó (Gn
41:40). Você, pastor Geremias, lança-se como “candidato de Deus”. Portanto, o
seu desejo por uma posição parlamentar é expresso de modo muito claro, o que
não ocorreu com José. Ademais, Deus
operou através de José, colocando-o como governador do Egito por um propósito bem definido:
preservação do “povo do concerto” do qual desencadearia o Cristo.
Portanto, você não pode usar um
propósito específico de Deus, José como governador do Egito, e generalizá-lo, a fim de justificar o
seu engajamento na política desse mundo.
Com certeza você pensou na história de Daniel para
justificar sua candidatura à
política. Daniel depois de interpretar o sonho de Nabucodonosor, foi colocado
para ser governador de toda a província de Babilônia (Dn 2:48). Observe que
Daniel foi colocado involuntariamente no cargo de governador. Deus tinha um
propósito específico quando permitiu Daniel ser governador. O povo de Israel que estava no cativeiro
babilônico corria o risco de se misturar com os babilônios e perder sua
identidade de povo de Deus. Então, Deus usa Daniel com autoridade de
governador sobre o povo de Israel a fim de conservar os costumes e as tradições
do povo de Deus. Agora, por que Daniel tinha que ter a autoridade de
governador? O povo de Deus na época, como também as demais nações, só
reconhecia autoridade política. Israel era, na época, uma nação politicamente
organizada. Essa era uma posição desviada, pois não era a vontade de Deus.
Mesmo assim, Deus permitiu que o povo de Israel tivesse governantes humanos e
Ele mesmo constituiu alguns, embora esse fosse o desejo do coração desviado do
povo. O povo não ouviria Daniel se ele não tivesse autoridade política. Como
Israel era uma nação politicamente organizada o povo só reconhecia autoridade
política e não reconhecia mais a autoridade divina. Tanto isso é verdade que as
palavras dos profetas muitas vezes foram rejeitadas pelo povo, porque eram
contrárias às autoridades políticas do povo. Portanto, no caso de Daniel, Deus
tinha um propósito bem definido: usá-lo como líder político com autoridade de
governador para guardar o povo de Israel da contaminação babilônica. Devo lhe salientar,
pastor Geremias, que Daniel
nunca teve objetivo político, o seu coração
estava no Reino de Deus. Isso se
comprova em Daniel 5: 16-17. Daniel rejeitou o cargo que o rei
Belsazar lhe ofereceu pelo fato dele interpretar o escrito na parede do palácio do rei.
Pastor
Geremias talvez você diga: “Sedraque, Mesaque e Abede-Nego, eram governantes
políticos, por que não posso ser político?” Sugiro você ler com esmero Daniel 3:12 “Há uns homens judeus, que tu
constituíste sobre os negócios da província de Babilônia: Sedraque, Mesaque e
Abede-Nego”. Note que Sedraque, Mesaque e Abede-Nego eram fiscais, ou seja,
eles cuidavam das negociações comerciais da província de Babilônia, eram
responsáveis pelas transações comerciais da Província. Eles eram empregados do
rei, e não autoridade política. Aliás, eles foram tratados pelo rei
Nabucodonosor, como súditos e não como quem tem autoridade política (Dn 3: 13-
21). Enfim, usar a história de Daniel, Sedraque, Mesaque
e Abede-Nego para justificar o seu envolvimento na política, é ter uma visão
tupiniquim dos planos de Deus.
Na
ância de querer o poder político você pode justificar-se dizendo que no Novo Testamento
temos um crente político: José de Arimatéia. Ele era senador. Portanto, por
que um crente ou um pastor não pode concorrer a um cargo político?
Os
registros bíblicos não nos permitem concluir definitivamente que José de
Arimatéia fosse crente, um homem nascido de novo. É preciso lembrar que muitos
seguiam Jesus, mas que poucos realmente entenderam quem Ele era. José de
Arimatéia “esperava o Reino de Deus” na visão judaica, ou seja, a restauração
do reino de Israel através de um Messias (Atos 1:6). José de Arimatéia era “bom
e justo” no aspecto ético e moral. Mas isso não implica necessariamente que
fosse salvo. Nicodemos também era correto, não corrupto e reconhecia, como José
de Arimatéia, ter Jesus vindo de Deus, no entanto Jesus disse que Nicodemos
precisava nascer de novo. Em Mt 27:57 diz que José de Arimatéia “era discípulo
de Jesus” e em em Jo
19:38 diz que ele “era discípulo oculto”. A palavra “discípulo”, em Mateus e
João, tem uma conotação genérica que não implica necessariamente compromisso
com Jesus. Portanto, não
há como querer justificar o seu engajamento na política tomando como exemplo José de
Arimatéia. Aliás, mesmo que José de Arimatéia tivesse nascido de novo, não há
nenhuma garantia de que ele permaneceu como senador ou que tenha realizado
campanha política para disputar o cargo.
Finalmente se você diz que
vai influenciar a sociedade e contribuir para o País sugiro que leia os livros “On the Road to civilization, a world
history”, do historiador
J. Sigman e “The history of the Christian religion and church
during the first centuries, do historiador Augusto Neander, Sigman relata: “o primitivo cristianismo foi pouco
entendido e foi considerado com pouco favor pelos que governavam o mundo pagão;
os cristãos não aceitavam ocupar cargos políticos”. Neander
enfatiza: “os cristãos se mantinham alheios e
separados do Estado como raça sacerdotal e espiritual, e o cristianismo
influenciava a vida civil apenas desse modo”.
Lembre-se
pastor Geremias que os crentes da igreja primitiva não eram pessoas alienadas.
Sem vínculo algum com a política da época, eles contagiavam os de fora exalando
o perfume de Cristo, Precisamos imitá-los!
Ir.
Marcos Pinheiro
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