sexta-feira, 20 de novembro de 2015

CANTATA: MÉTODO IMPRÓPRIO PARA EVANGELIZAÇÃO



  CANTATA: MÉTODO IMPRÓPRIO PARA EVANGELIZAÇÃO

Na cultura evangélica brasileira, a plataforma de muitas igrejas tornou-se um palco para concorrer à vaidade, às disputas. O culto a Deus tornou-se uma vitrine de ovações onde as pessoas gostam de exibir seus talentos e dotes artísticos. Mostram que sabem tocar e cantar. Esta é a realidade que invadiu a nossa forma de cultuar a Deus. A verdade é que muitos líderes estão engordando as suas ovelhas com as ovações e tem feito da igreja do Senhor uma igreja segundo o coração do mundo, e não segundo o coração de Deus.

“Como ouvirão”, pergunta o apóstolo Paulo em Romanos 10, “se não há quem pregue?” Paulo não diz: “Como ouvirão” se não há uma cantata, ou uma banda de músicos, ou um grupo de louvor? A comunicação do Evangelho deve ser com palavras dirigidas à mente. Se um método de propagar o evangelho não é através da pregação expositiva, não é o que o Senhor ordena e deseja. A cantata, o drama, os jograis e as coreografias podem ser poderosamente cativante e influente no mundo secular, mas é veículo inadequado e impróprio para a apresentação da verdade do Evangelho, pois não é um desafio direto e claro à mente humana. Somente a proclamação direta persuade a mente livre, racional (2 Tm 3:16).

As apresentações dramáticas e as cantadas são metodologias de entretenimento, do tipo “pega leve”. As pessoas ouvirão um Evangelho, enfraquecido, e suas respostas não serão autênticas. Alguém pode dizer: “Mas uma cantata sobre Jesus não é cheio de palavras bíblicas?” Certamente tem palavras bíblicas, mas também tem atores, espetáculo e impacto dramático prendendo a atenção do espectador, não o conduzindo ao entendimento espiritual. Enfim, nas apresentações de cantatas o auditório é transportado à região da irrealidade. Os cantores e os instrumentistas são os artistas. Deus e a plateia são consumidores. Se estamos assistindo uma cantata, não estamos louvando, estamos assistindo. No início da história do mundo, a oferta de Caim foi rejeitada porque representava a sua própria técnica e habilidade. Portanto, quando demonstramos nossas habilidades diante de Deus, como ato de louvor, estamos no mesmo nível de Caim. Lamentavelmente, o “louvor” estético tem invadido as igrejas evangélicas. Tem sido uma oportunidade para o exibicionismo humano. A pompa cerimonial das cantatas é uma atividade imprópria.

Alguns dizem: “A cantata faz parte do ministério de louvor”. Outros dizem: “Sou ministro de louvor, pois toco piano e conduzo a musicalidade dos louvores”. Não existe ministério de louvor, pois louvor não se ministra. Quem toca piano é pianista e não ministro de louvor.  Biblicamente louvar é dar honra, é glorificar exclusivamente o Deus trino. Louvor é uma ação cem por cento vertical.  O louvor escriturístico é uma expressão que só pode ser oferecido a uma única pessoa, o Senhor de nossas vidas – Jesus Cristo. Ademais, quem ministra, ministra a alguém. Ministra-se conforto ao aflito. Ministra-se aos enfermos. Ministra-se aos necessitados. Ministram-se as ordenanças - batismo e ceia, mas louvor não se ministra. Quem louva não ministra, mas simplesmente adora. Em nenhuma parte do Novo Testamento fala-se de “ministro de louvor”. Os dons ministeriais para a igreja encontram-se em Efésios 4:11. Não é citado que Deus concedeu “uns para levitas”. Portanto, louvor não é algo que se possa ministrar, pois é algo que só pode ser exercido pelo próprio crente, como fruto dos lábios que magnifica o Deus Altíssimo. O louvor são palavras inteligentes e bíblicas, elevadas pela fé aos ouvidos do Senhor. Nesse contexto, o louvor sacro não é para apresentação. Não é para agradar e deleitar as pessoas. O louvor não existe para receber aplausos, nem para enriquecer culturalmente a ninguém. Não existe nem mesmo para evangelizar.

Alguns Dizem: “Louvor é cultura, é arte; no Antigo Testamento o louvor era rico em artes ordenadas por Deus, portanto, é perfeitamente razoável apresentar cantatas”. É preciso entender que os louvores no Antigo Testamento não incluíam apresentações de beleza. Não incluíam habilidades como expressão direta de louvor. Mas, eram simbólicas. Eram lições e não meios de adoração. Eram sermões visuais. Eram figuras do caminho da graça.  O teológo Holandes Abraão Kuyper disse: “Conquanto a fé bíblica possa inspirar a arte, o casamento da fé com a arte acaba destruindo a ambos”. Além disso, em nenhuma parte das Escrituras nos deparamos com situações onde os levitas cantavam e faziam apresentações para o povo. O povo louvava ao Senhor juntamente com os levitas. O louvor é responsabilidade de toda a assembleia dos santos e não de uma pessoa que recebeu impropriamente o título de “ministro de louvor”.

Nota-se, por parte das pessoas que participam da cantata, uma preocupação extrema com a performance estética – “Ensaiamos 3 meses antes da apresentação, pois Deus merece o melhor”. Que paradoxo! Os reformadores removeram as habilidades artísticas como verdadeira expressão de louvor. Jogaram fora todo o teatrismo existente no louvor. Enganam-se aqueles que pensam que os instrumentos e o tipo de voz enriquecem o louvor. Enganam-se aqueles que veem o louvor como um espetáculo. O único instrumento de evangelismo é a proclamação expositiva da Palavra de Deus. O ouvinte ouve uma mensagem sem manipulação, clara e direta e, conforme o mover do Espírito Santo, sua resposta será genuína. A cantata, por si mesma, perde esse foco central, minimizando a função da mente e enfatizando a estimulação artificial dos sentimentos. As cantatas apelam principalmente às emoções. Na mente do ouvinte ela está mais intimamente associada à ficção, a um faz-de-conta e esta característica leva a uma superficialidade da mensagem da cruz resultando num grande número de pessoas não genuinamente convertidas.
Alguns defendem as cantatas alegando que é um método de evangelismo do tipo “isca e anzol”. Ou seja, as pessoas são pescadas para o Evangelho através da isca que é a cantata. Em I Coríntios 9,  Paulo nos incita a não tentarmos "fisgar" as pessoas para Cristo através da "isca do espetáculo”. Pelo contrário, Paulo convencia os diferentes povos sobre a Palavra de Deus utilizando como método a pregação expositiva. A fidelidade para a qual a igreja é chamada nos compele a preservar a integridade da mensagem através da preservação do método expositivo de comunicá-la.

Muitos têm a ideia de que a igreja para ser frutífera precisa ter programações que vá ao encontro das necessidades da nossa geração. Precisa de uma nova forma de evangelizar e a cantata é uma dessas formas. Deve-se usar qualquer coisa que seja agradável às pessoas a fim de ganhá-las para Cristo. O texto base para justificar essa ideia é a afirmação de Paulo “Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos, fiz-me tudo para todos, para, por todos os meios, chegar a salvar alguns” (I Co 9:22). O contexto nos revela que Paulo, está falando de pregação (v16) e não de uma nova forma de ganhar alma para Jesus. Paulo, não está sugerindo uma nova maneira de apresentar o Evangelho, ele afirma que convencia os diferentes ouvintes sobre a Palavra de Deus usando a pregação expositiva como método. Ele está descrevendo uma atitude de sacrifício pessoal, não de contemporização com o mundo.

Algumas pessoas me disseram: “Você é radical, quadrado, retrógado, legalista, preso ao passado e quer que tudo seja feito como se fazia no século dezenove”. Eu quero usar, simplesmente, a proclamação direta da Palavra de Deus porque é o que Deus nos diz exclusivamente para fazer.

Ir. Marcos Pinheiro