CANTATA: MÉTODO IMPRÓPRIO PARA EVANGELIZAÇÃO
Na
cultura evangélica brasileira, a plataforma de muitas igrejas tornou-se um
palco para concorrer à vaidade, às disputas. O culto a Deus tornou-se uma
vitrine de ovações onde as pessoas gostam de exibir seus talentos e dotes
artísticos. Mostram que sabem tocar e cantar. Esta é a realidade que invadiu a
nossa forma de cultuar a Deus. A verdade é que muitos líderes estão engordando as suas
ovelhas com as ovações e tem feito da igreja do Senhor uma igreja segundo o
coração do mundo, e não segundo o coração de Deus.
“Como
ouvirão”, pergunta o apóstolo Paulo em Romanos 10, “se não há quem pregue?”
Paulo não diz: “Como ouvirão” se não há uma cantata, ou uma banda de músicos,
ou um grupo de louvor? A comunicação do Evangelho deve ser com palavras
dirigidas à mente. Se um método de propagar o evangelho não é através da
pregação expositiva, não é o que o Senhor ordena e deseja. A cantata, o drama,
os jograis e as coreografias podem ser poderosamente cativante e influente no
mundo secular, mas é veículo inadequado e impróprio para a apresentação da
verdade do Evangelho, pois não é um desafio direto e claro à mente humana.
Somente a proclamação direta persuade a mente livre, racional (2 Tm 3:16).
As
apresentações dramáticas e as cantadas são metodologias de entretenimento, do
tipo “pega leve”. As pessoas ouvirão um Evangelho,
enfraquecido, e suas respostas não serão autênticas. Alguém pode dizer: “Mas
uma cantata sobre Jesus não é cheio de palavras bíblicas?” Certamente tem
palavras bíblicas, mas também tem atores, espetáculo e impacto dramático
prendendo a atenção do espectador, não o conduzindo ao entendimento espiritual.
Enfim, nas apresentações de cantatas o auditório é transportado à região da
irrealidade. Os cantores e os instrumentistas são os artistas. Deus e a plateia
são consumidores. Se estamos assistindo uma cantata, não estamos louvando,
estamos assistindo. No início da história do mundo, a oferta de Caim foi
rejeitada porque representava a sua própria técnica e habilidade. Portanto,
quando demonstramos nossas habilidades diante de Deus, como ato de louvor,
estamos no mesmo nível de Caim. Lamentavelmente, o “louvor” estético tem
invadido as igrejas evangélicas. Tem sido uma oportunidade para o exibicionismo
humano. A pompa cerimonial das cantatas é uma atividade imprópria.
Alguns
dizem: “A cantata faz parte do ministério de louvor”. Outros dizem: “Sou
ministro de louvor, pois toco piano e conduzo a musicalidade dos louvores”. Não
existe ministério de louvor, pois louvor não se ministra. Quem toca piano é
pianista e não ministro de louvor. Biblicamente louvar é dar honra, é glorificar
exclusivamente o Deus trino. Louvor é uma ação cem por cento vertical. O louvor escriturístico é uma expressão que só
pode ser oferecido a uma única pessoa, o Senhor de nossas vidas – Jesus Cristo.
Ademais, quem ministra, ministra a alguém. Ministra-se conforto ao aflito. Ministra-se
aos enfermos. Ministra-se aos necessitados. Ministram-se as ordenanças -
batismo e ceia, mas louvor não se ministra. Quem louva não ministra, mas
simplesmente adora. Em nenhuma parte do Novo Testamento fala-se de “ministro de
louvor”. Os dons ministeriais para a igreja encontram-se em Efésios 4:11. Não é
citado que Deus concedeu “uns para levitas”. Portanto, louvor não é algo que se
possa ministrar, pois é algo que só pode ser exercido pelo próprio crente, como
fruto dos lábios que magnifica o Deus Altíssimo. O louvor são palavras
inteligentes e bíblicas, elevadas pela fé aos ouvidos do Senhor. Nesse
contexto, o louvor sacro não é para apresentação. Não é para agradar e deleitar
as pessoas. O louvor não existe para receber aplausos, nem para enriquecer
culturalmente a ninguém. Não existe nem mesmo para evangelizar.
Alguns
Dizem: “Louvor é cultura, é arte; no Antigo Testamento o louvor era rico em
artes ordenadas por Deus, portanto, é perfeitamente razoável apresentar
cantatas”. É preciso entender que os louvores no Antigo Testamento não incluíam
apresentações de beleza. Não incluíam habilidades como expressão direta de
louvor. Mas, eram simbólicas. Eram lições e não meios de adoração. Eram sermões
visuais. Eram figuras do caminho da graça.
O teológo Holandes Abraão Kuyper disse: “Conquanto a fé bíblica possa
inspirar a arte, o casamento da fé com a arte acaba destruindo a ambos”. Além
disso, em nenhuma parte das Escrituras nos deparamos com situações onde os
levitas cantavam e faziam apresentações para o povo. O povo louvava ao Senhor
juntamente com os levitas. O louvor é responsabilidade de toda a assembleia dos
santos e não de uma pessoa que recebeu impropriamente o título de “ministro de
louvor”.
Nota-se, por parte das
pessoas que participam da cantata, uma preocupação extrema com a performance
estética – “Ensaiamos 3 meses antes da apresentação, pois Deus merece o
melhor”. Que paradoxo! Os reformadores removeram as habilidades artísticas como
verdadeira expressão de louvor. Jogaram fora todo o teatrismo existente no
louvor. Enganam-se aqueles que pensam que os instrumentos e o tipo de voz
enriquecem o louvor. Enganam-se aqueles que veem o louvor como um espetáculo. O
único instrumento de evangelismo é a proclamação expositiva da Palavra de Deus.
O ouvinte ouve uma mensagem sem manipulação, clara e direta e, conforme o mover
do Espírito Santo, sua resposta será genuína. A cantata, por si mesma, perde
esse foco central, minimizando a função da mente e enfatizando a estimulação
artificial dos sentimentos. As cantatas apelam principalmente às emoções. Na
mente do ouvinte ela está mais intimamente associada à ficção, a um faz-de-conta
e esta característica leva a uma superficialidade da mensagem da cruz
resultando num grande número de pessoas não genuinamente convertidas.
Alguns defendem as cantatas
alegando que é um método de evangelismo do tipo “isca e anzol”. Ou seja, as
pessoas são pescadas para o Evangelho através da isca que é a cantata. Em I
Coríntios 9, Paulo nos incita a não tentarmos "fisgar" as pessoas para
Cristo através da "isca do espetáculo”. Pelo contrário, Paulo
convencia os diferentes povos sobre a Palavra de Deus utilizando como método a
pregação expositiva. A fidelidade para a qual a igreja é chamada nos compele a
preservar a integridade da mensagem através da
preservação do método expositivo de comunicá-la.
Muitos
têm a ideia de que a igreja para ser frutífera precisa ter programações que vá
ao encontro das necessidades da nossa geração. Precisa de uma nova forma de
evangelizar e a cantata é uma dessas formas. Deve-se usar qualquer coisa que
seja agradável às pessoas a fim de ganhá-las para Cristo. O texto base para
justificar essa ideia é a afirmação de Paulo “Fiz-me como fraco para os fracos,
para ganhar os fracos, fiz-me tudo para todos, para, por todos os meios, chegar
a salvar alguns” (I Co 9:22). O contexto nos revela que Paulo, está falando de
pregação (v16) e não de uma nova forma de ganhar alma para Jesus. Paulo, não
está sugerindo uma nova maneira de apresentar o Evangelho, ele afirma que
convencia os diferentes ouvintes sobre a Palavra de Deus usando a pregação
expositiva como método. Ele está descrevendo uma atitude de sacrifício pessoal,
não de contemporização com o mundo.
Algumas
pessoas me disseram: “Você é radical, quadrado, retrógado, legalista, preso ao
passado e quer que tudo seja feito como se fazia no século dezenove”. Eu quero
usar, simplesmente, a proclamação direta da Palavra de Deus porque é o que Deus
nos diz exclusivamente para fazer.
Ir.
Marcos Pinheiro
Amém! Graças a Deus por mais este ensinamento.
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