DEUS NÃO RECEBE PROPINA
Pastores réprobos apelam para o emocional dos
crentes. Sacolejam a alma dos incautos através da manipulação maligna do tipo:
“Precisamos terminar a construção do nosso lindo templo, faça um voto
financeiro para Deus que ele te recompensará”. Na sua insanidade espiritual,
dizem ainda: “O voto constrange Deus e o impulsiona a liberar a bênção”. Isso é
estelionato, é prática criminosa, é fraude, é charlatanismo. É tentativa de
pagar propina a Deus.
Na verdade, o voto é uma tentativa explicita de
barganhar com Deus, pois a pessoa faz um juramento assumindo o compromisso de
fazer algo para a obra de Deus. A pessoa recebe para depois pagar, o que
caracteriza a propina. O voto sempre tem uma expectativa de retribuição, de
retorno, ou seja: “Darei isso na esperança que Deus me conceda aquilo”. Esse
ato demonstra uma visão da relação com Deus como uma relação comercial, uma
relação no ambiente de negócios, uma relação ganha-ganha. Ninguém perde, todos
ganham. O Deus-patrão ganha e o crente-consumidor ganha também. Juntos, Deus e
o crente se ajudam mutuamente. Que absurdo!
É preciso entender que os judeus entendiam que ao
cumprirem suas obrigações para com Deus, o Senhor em troca, concedia-lhes
benefícios; caso contrário, eram castigados. Para os judeus, Deus abençoava a
fidelidade e castigava a desobediência. Deus abençoava os sacrifícios corretos
e castigava quem não os fazia. Houve consequências danosas para os judeus que
faziam votos e não os cumpriam. Porém, com a vinda de Jesus inaugurou-se uma
nova dispensação onde a relação com Deus deixou de ser por méritos ou por atos.
Não existe nada que o homem possa fazer para merecer as bênçãos de Deus e se
fosse merecer, receberia somente condenação, pois o melhor do homem é pecado. A
relação do homem com Deus depende exclusivamente do que Cristo fez no calvário.
Portanto, votos não é um ensino aplicável na vida cristã hoje. Tudo que
recebemos é sem merecimento, é por graça, somente por graça, é dádiva. Quando
alguém Justifica a prática do voto usando como exemplo Ana, Jacó e Jefté está
judaizando o cristianismo. Nosso padrão não são os judeus, mas a Nova Aliança.
Alguns líderes para defender a prática do voto nos
dias atuais advogam que Paulo fez voto – “tendo rapado a cabeça em Cencréia,
porque tinha voto” (At 18:18). Dizem ainda que Paulo em Atos 21:23 - 27 se
submeteu à prática do voto juntamente com outros judeus. É necessário
entendermos que Paulo sabia que as cerimônias judaicas não salvava ninguém.
Paulo fez essa concessão orientada pelos anciãos judaicos porque ele estava
sendo considerado pelos judeus como uma pessoa não agradável, não querida, não
bem-vinda, devido o seu discurso da salvação sem os ritos e costumes da lei.
Paulo cedeu à prática do voto a fim de ganhar os fracos na fé, por isso ele
ressalta em I Coríntios 9:20: “tornei-me judeu para os judeus, a fim de ganhar
os judeus; para os que estão debaixo da lei, tornei-me como se estivesse
sujeito à lei, embora eu mesmo não esteja debaixo da lei, a fim de ganhar os
que estão debaixo da lei.” O apóstolo cedeu exatamente porque o rito do voto
indicava “consagração”. Não tinha o sentido de troca com Deus.
Jesus ensinou em Mateus 5 que a palavra do crente deve ser suficiente
sem fazer juramentos, votos. Quando o crente disser “sim” ou “não”, isso seja a
verdade. O voto é a ignorância em relação ao sentido da cruz. É a manifestação
de uma ansiedade em troca de uma bênção. Jesus ordenou a não andarmos ansiosos
com coisa alguma. Ele reprova a falta de fé no cuidado e no amor paternais de
Deus (Mat. 6:25-34). Se sabemos que o Senhor está no controle e que todas as
coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, não há necessidade de se fazer
votos. Ao fazê-los, mostramos falta de confiança nEle. Portanto, campanha,
corrente, sacrifício, peregrinação ou voto, são tentativas de pagar propina a
Deus, tentando comprar uma bênção.
Há líderes com cabeça de ovelha e patas de lobo. Há
oportunistas entre nós. E pessoas que não entendem nada. Por isso, precisamos
voltar às origens. Voltar ao início do cristianismo e da Reforma, recuperando a
essência do Evangelho. A prática do voto é a judaização do Evangelho e a
catolização do crente. Não estou tecendo uma colcha de retalhos. A judaização
do Evangelho e catolização do crente são produtos de uma hermenêutica
defeituosa, que não compreende as distinções entre o Novo e o Antigo,
Testamentos. Que os crentes se livrem da propina ao divino, o voto.
Ir. Marcos Pinheiro
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