CANDIDATOS EVANGÉLICOS: MEDITEM O CASO DE
DANIEL
Muitos crentes citam a história de Daniel
para justificar suas candidaturas à política. Vejamos a interpretação sobre a
vida de Daniel.
O rei Nabucodonosor compreendeu a importância
do seu sonho e decidiu submeter a um teste os “sábios” da Babilônia. O rei mandou
chamar os “sábios” da Babilônia para que eles lhe fizessem saber o sonho e a
sua interpretação. Se não conseguissem decifrar o sonho, seriam mortos; porém,
se decifrassem o sonho e a sua interpretação, receberiam de Nabucodonosor
presentes, e dádivas, e grande honra (Dn 2:5-6). Os “sábios” da Babilônia não
conseguiram decifrar o sonho do rei nem a sua interpretação. Nabucodonosor,
enfurecido, decretou a matança de todos os “sábios” da Babilônia. O decreto de
matança incluía também Daniel. Mas, Daniel estava muito mais preocupado com a
vida dos “sábios” da Babilônia do que com sua própria vida, pois Daniel
conhecia a Deus e os “sábios” da Babilônia estavam perdidos, pois praticavam
abominações aos olhos de Deus.
Daniel, decididamente, foi ter com o rei
Nabucodonosor, e pediu tempo para interpretar o sonho. Daniel buscou o Senhor
em oração intensa e Deus revela o sonho a Daniel bem como a sua interpretação. Daniel
não reivindicou nenhum mérito pessoal por revelar ao rei o sonho e sua
interpretação. Daniel não tinha o desejo de governar. Não tinha objetivo
político. O seu coração estava no Reino de Deus. Porém, após interpretar o
sonho de Nabucodonosor, o rei o colocou para ser governador de toda a província
de Babilônia (Dn 2:28). Daniel foi colocado involuntariamente no cargo de
governador. Deus tinha um propósito específico quando permitiu Daniel ser
governador.
O povo de Israel que estava no cativeiro
babilônico corria o risco de se misturar com os babilônios e perder sua
identidade de povo de Deus. Os israelitas podiam adquirir os modos de vida dos
babilônios. Então, Deus usa Daniel com autoridade de governador sobre o povo de
Israel a fim de conservar os costumes e as tradições do povo de Deus.
Por que Daniel tinha que ter a autoridade de
governador? O povo de Deus na época, como também as demais nações, só
reconhecia autoridade política. Israel era, na época, uma nação politicamente
organizada. Essa era uma posição desviada, pois não era a vontade de Deus.
Mesmo assim, Deus permitiu que o povo de Israel tivesse governantes humanos e
Ele mesmo constituiu alguns, embora esse fosse o desejo do coração desviado do
povo. O povo não ouviria Daniel se ele não tivesse autoridade política. Como
Israel era uma nação politicamente organizada o povo só reconhecia autoridade
política e não reconhecia mais a autoridade divina. Tanto isso é verdade que as
palavras dos profetas muitas vezes foram rejeitadas pelo povo, porque eram
contrárias às autoridades políticas do povo. Portanto, no caso de Daniel, Deus
tinha um propósito bem definido: usá-lo como líder político com autoridade de
governador para guardar o povo de Israel da contaminação babilônica. Não tem
sentido querer ser político, hoje, para guardar a igreja da contaminação do
mundo.
Daniel nunca almejou cargo político, isso se
comprova em Daniel 5: 16-17: “eu, porém, tenho ouvido dizer de ti que podes dar
interpretação e resolver dúvidas, agora, se puderes ler este escrito, e
fazer-me saber a sua interpretação, serás vestido de púrpura, terás cadeia de
ouro ao pescoço e no reino serás o terceiro governante; então respondeu Daniel
e disse na presença do rei: as tuas dádivas fiquem contigo, e dá os teus
prémios a outro; contudo lerei ao rei o escrito, e far-lhe-ei saber a
interpretação”. Note que quando Daniel se propôs a ler o escrito na parede do
palácio do rei Belsazar, filho de Nabucodonosor, não fez com a intenção de
obter poder político. Vê-se claramente que Daniel rejeitou o cargo que o rei
Belsazar lhe ofereceu por ter ele interpretado o escrito na parede do palácio.
O crente candidato à política trabalha
fazendo campanhas para ser eleito. Isso mostra o desejo de governar no mundo da
política. Bem diferente de Daniel. Aquele que almeja participação nos governos
políticos mostra o quanto está distante do santo Daniel que nunca almejou ser
político.
Usar a história de Daniel para justificar o
envolvimento do crente na política é ter uma visão míope dos planos de Deus.
Vale salientar que Daniel passou incólume por vários governos, por fidelidade a
Deus, e não por fidelidade partidária aos reis. Daniel enfrentou muitas
perseguições e, já velho, foi lançado na cova dos leões por fidelidade a Deus,
nunca por perseguição política. Não podemos esquecer que a função primária da
igreja é proclamar o Santo Evangelho e chamar os homens ao arrependimento. Sua
função nunca foi e nunca será o engajamento na política.
Ir. Marcos Pinheiro
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